Um dia eu acordei e logo depois você tinha ido embora. Nunca pensei que isso fosse acontecer, engraçado.

Hoje, preciso escrever sobre essa onda abrupta que entrou e saiu levando tudo, deixando um caos que até hoje não consegui arrumar – dentro e fora de mim –. Sinto sua falta como um passarinho sente falta do ninho quando quebra as asas, mas sei que quando conseguir curar minha ferida e voltar a voar, achar de volta o caminho, você não vai estar lá, eu vou estar sozinha naquele lugar. Então, talvez, a verdade é que sinto sua falta dentro daquelas paredes mal pintadas, velhas e cansadas. Talvez não seja o lugar, mas seja você, anywhere. Porém, antes de tudo isso ser importante, há algo ainda mais considerável... a minha alegria de saber que pelo menos uma vez nessa curta vida, você tentou. Foram sessenta anos para conseguir sair da dor e se sentar solitário, numa casa qualquer, e decidir recomeçar. Sessenta anos até você se olhar no espelho e descobrir que o que você estava vivendo não poderia ser chamado de vida. Sessenta anos até poder se encarar e descobrir que vale a pena ser feliz. Nunca é tarde para tentar, nunca é longe para chegar, nunca é tarde para se amar. E da um orgulho tão grande ver tudo isso acontecendo, não que meu coração não sofra sabendo que o caminho do auto-conhecimento e do decidir rasgar da dor não seja extremamente dolorido também. Soa até errado escrever isso, mas ninguém larga uma dor sem sofrer, pois secretamente viramos amigos da nossa dor, dependentes. Nos escondemos nela e imploramos para que alguém nos tire de lá. Um dia, nós mesmos nos tiramos, em agonia, nos contorcendo, nos implodindo... nos tiramos de lá. Olhamos dentro dos nossos próprios olhos e eles nos sussurram um fim. Assim, nos separamos do que já era costume. E assim seguimos, embora debaixo do seu sorriso doa o fim, debaixo do meu sorriso carrego esperança de que nasce outro dia, um dia em que você volte e tenha vida e paz. Ou um dia em que sua ausência seja encarada sem peso no peito de ninguém. O melhor de tudo isso é saber que você está pertinho e a qualquer momento posso te abraçar de novo. A verdade é que não sei viver sem você, e nem sei se você tem noção do tamanho disso dentro de mim. A verdade é que estou muito orgulhosa e muito preocupada, e que às vezes choro baixinho a sua falta e comemoro em meu coração a tua alegria, que virá, que vem, que florescerá no seu peito quando se encontrar e perceber que nunca é tarde, ela virá e se sentará ao seu lado, será sua nova amiga. 

Sabe, você me disse algumas vezes desde que se foi... "Você precisa ser feliz agora, não amanhã"

E eu tenho tentado, tenho lembrado de não deixar a vida passar para descobrir depois que não era dessa forma que gostaria de ter vivido.
E se há algo que espero é que todos nós achemos caminho para sermos melhores. Precisamos ser. 

Para ser feliz hoje e amanhã também.