Extensão

maio 22, 2018

Saudade é uma palavra muito grande.

Nela cabem toda a nossa estória, todos nossos encontros e sorrisos abertos no peito. Cabem todos os dias em que a dor nos encurralou em um canto que parecia não ter saída. Cabem as vitórias e derrotas que mastigamos juntos. Cabem o cheiro de ternura que ficava grudado na pele e os olhares tímidos e sinceros que trocamos. Cabem o todo do mundo que você me ensinou a ver, e o pedaço do outro tanto que aprendi sozinha, estendendo as mãos para a vida. Nela cabem a cor, o ronco e o cheiro da gasolina do carro em que você me ensinou a dirigir. Nela cabem o tanto de sonho que perdi. 

É com ela que me conto passo a passo até chegar em casa, e não encontro descanso na minha cama. Não encontro colo que me proteja, não encontro sorriso que se abra ao me ver. É com ela que rastejo até o próximo dia, fingindo ter esperança de uma mudança que ninguém me prometeu. Fingindo, que é para ver se eu acredito que outra hora dessas sentirei no meu peito uma alegria transbordar, que terei um colo que me segura e um sorriso que me espera, terei, finalmente, para onde voltar. 

Por enquanto, resta a falta. Restam os dias sem sentido, indo e vindo, de lá para cá, sem saber bem o porquê. Restam as minhas orações em forma de músicas e meus pedidos em formas de lágrimas. Restam as poucas horas que eu tenho para lidar comigo mesma e tentar me entender, me abraçar, estar lá por mim. Só resta eu, meus livros, meus textos, meus filmes, minhas obrigações, minhas tentativas de chegar até amanhã, e talvez isso seja tudo que precisa restar agora. Ter o ímpeto de sobreviver hoje ainda que com as mãos feridas. Resta ter a saudade, que é uma palavra muito grande para te dizer de tudo que nela há. 

Resta mastigar o coração, para separar a angustia, a tristeza e a ausência em pedaços e saber lidar melhor com todos esses ecos sem emitir som algum.

B. Barbosa

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