Coragem

maio 16, 2018

Às vezes é muito difícil abrir os olhos, levantar e ir até o fim de mais um dia. É difícil se esquivar do meio das pessoas, não ser avessa a dor do outro, não ligar o automático, não andar correndo e esbarrar em alguém que também está com tanta pressa que esqueceu de olhar o céu. É difícil achar dentro de si esse estar vivo que ouço falar, parece que todos os sentidos, passos, caminhos e atitudes tem sido ensaiadas dia após dia, e que me transformei em uma máquina que quase não é alcançada e tocada — Ou que toca e alcança outrem — . Me lembro que não deveria ser assim… Mas hoje mal consigo falar, dizer do poder de acreditar que o amor pode curar alguém, pode salvar o dia de um desconhecido, pode abrir um sorriso, pode existir no meio do caos, das horas, do cansaço jogado nos ombros do trabalhador exausto no trem das 20h. Me lembro que todas as minhas convicções e buscas deveriam ser diluídas ao olhar para fora e entender que o mundo é bem maior que eu… e maior que as convicções… e maior que as buscas… e que as oportunidades chegam todos os dias, dentro das pequenas aberturas tímidas que a vida dá para que eu possa ser melhor para mim, sendo melhor para o outro.

É muita guerra travada no peito de quem só quer descansar, encostar a cabeça em um ombro macio, respirar fundo, encontrar um pouco de paz. É muito sangue exposto em vão, e muita ferida aberta pelas palavras que a gente usa como armas. Que ao invés de proferir esperança, despejam morte sobre nossos olhos. Vai ver é complicado demais não se estressar por conta do horário, não receber o que se deseja de alguém, não ter alcançado um objetivo, se desvencilhar de algo abusivo, lidar com os prazos, cumprir as metas. Vai ver é muito pesado lidar com a ansiedade de ainda não ter conseguido o emprego, de não ter a compreensão dos pais, de ter alguém próximo com tanta dor emocional que você não consegue entender. Pode ser que seja muito triste não ter alguém do lado para dizer da vida, não saber o que se quer, não ter um plano, não sonhar. Talvez seja realmente complicado abrir o peito e deixar a vida trazer, com paciência, a nossa história. Ajudando a escrevê-la, mas tendo calma quando não sai como o esperado. É necessário unir coragem para atravessar as barreiras, largar o que faz mal, ultrapassar limites que sentam na frente da porta e te impedem de seguir bem. É necessário muita coragem para amar a vida, a ponto de não deixá-la passar como uma distração, mas para vivê-la enfim, mesmo que às vezes possa doer ser alcançado e alcançar. Coragem. Coragem. Coragem.

B. Barbosa

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