435

julho 05, 2018

O tempo é muito relativo. Pensei hoje enquanto estava indo para estação às seis e meia, apressada e dolorida no meio do mundo. O tempo é muito apertado quando o sol ainda nem se levantou mas eu sim, correndo, às vezes furiosa, às vezes apática para aquilo que faço todos os dias. E mesmo no meio de todo o vai e vem, das frustrações, dos enganos e engasgos, empurrões e cansaço, sei que você está mais que em todos os lugares que vou e me trazem sua lembrança. Está dentro de mim, e é o que sou e o que penso todos os dias que sempre me trazem para perto de você. 

O tempo é muito relativo porque fazem 435 dias que você anda comigo pelas ruas da minha vida, pelas calmas e pelas apressadas, as bonitas, cheias de verde e vida e as esburacadas, lamacentas e  difíceis de caminhar. Fazem 435 dias que de repente um simples dia de mais do mesmo não é um simples dia com mais do mesmo. É um dia cheio de impulsos para te encontrar logo, te ver de perto, sentir seu cheiro e achar teu calor na minha pele. São todos diferentes porque descobri, finalmente, o preço e a ternura do amor. 

É achar calma quando você entra pela porta e senta na beirada da minha calma, achar beleza quando seus olhos encontram os meus no mesmo fio de sentimento que sai de mim e vai até você. É achar ternura quando suas mãos seguram as minhas e pedem paz. É achar carinho no abraço que acolhe e liberta da dor. É achar graça das tuas manias e das tuas sutilezas. É ter os dias do fim de semana e não saber mais o que fazer com eles se você não está por perto. É querer te contar da menina que vi e não reconheci. É querer dividir cada pequena coisa bonita e divertida que me cercou em algum momento e poder te chamar e dizer "cuida de mim", "vem aqui", chorar no seu ombro até começar a rir de algo completamente fora de contexto que você disse ou fez. É entender que sempre passa, sempre vai passar e a gente vai estar lá depois da chuva. 

O tempo é muito relativo, o amor também. Ele entra debaixo da pele e faz uma casa, com uma casca que parece ser tão dura que nada fura, mas é frágil como uma porcelana. O amor é o bicho mais estranho que já conheci, ou acho que conheci. E não sei se para sempre ele morará no seu e no meu peito, desse jeito doce e intensificado que se faz presente. Mas sei que é muito mais de 435 dias que dizem do que você é feito para mim, ou que definem um grau de importância. Serão necessários muito mais que 435 dias para que seja suficiente estar do seu lado. Muito mais de 435 dias para que tudo isso possa se tornar mais sutil. E espero que daqui a mais x dias o tempo ainda não seja o bastante para te tornar alguém que não conheço, alguém que não mais vejo ou alguém que escapuliu por entre as linhas das minhas mãos... Espero te ver sempre com a firmeza de que a relatividade do mundo não pode interferir na certeza que mora no meu peito. 

B. Barbosa


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